André Machado - O Globo
RIO - O governo do Estado do Rio está despejando 31 mil laptops sobre os professores das escolas da rede pública, com previsão de outros dez mil em nova licitação. Segundo a Secretaria de Estado da Casa Civil, foram inicialmente investidos cerca de R$ 70 milhões na empreitada - R$ 1.900 por computador, em média. Mais de 1.430 escolas foram contempladas. A iniciativa é mais do que válida - mas sempre há uns poréns e a idéia, aqui, é justamente contribuir para que o serviço melhore.
Vamos por partes. Os laptops foram fabricados pela Positivo ou pela CCE, adquiridos via Investiplan - escolhida em licitação através de pregão eletrônico. Na configuração, processador Celeron M440, com 512MB de memória e 80GB de disco rígido. O sistema operacional é o Windows XP Pro com o MS Office, e junto com o notebook vem um modem USB da Oi com acesso internet sem fio e gratuito para os professores. Completa o kit um CD com um curso de informática e um passo-a-passo para usar a máquina, dividido em quatro módulos. O notebook tem gravador de CD e leitor de DVD.
Mas como os professores estão vendo tudo isso? Alguns com bons olhos, outros nem tanto.
- A configuração da máquina é boa, mas a conexão de internet está muito lenta - comenta o professor de História Marcello Rangel. - Nominalmente, aparece como 236Kbps (a velocidade da tecnologia EDGE de telefonia celular, usada no modem), mas na prática alcança no máximo a de um modem de 56K. Ou seja, uma conexão discada... Testei no velocímetro do RJNET e não passei de 30Kbps.
O repórter verificou a mesma discrepância no notebook do professor de sociologia André Ferreira. André, aliás, tinha apenas começado a usar o notebook e não sabia como fazer a conexão de internet no laptop com o modem sem fio. O próprio repórter fez a conexão e aproveitou para mostrar-lhe como atualizar o antivírus que vem com o notebook, o AVG Free 7.5. A versão do antivírus estava completamente desatualizada e enviava mensagens de alerta logo que o notebook era ligado. E a atualização demorou bom tempo, já que a conexão com a internet estava bem lenta.
- Posso garantir que a maioria de meus colegas não está feliz com esse notebook. Vários são idosos e não sabem como mexer na máquina; outros estão preocupados com a segurança - diz André, que trabalha numa escola estadual em Itaboraí. - Até por conta disso, o notebook nos foi entregue em sacos pretos de lixo, meio escondido, por receio de roubo.
Receio que tem fundamento: semana passada, foram furtados 20 laptops da Escola Estadual Herbert de Souza, na Tijuca. Marcello confirma o que André comentou e disse também ter recebido o notebook num saco preto.
O problema da velocidade também ocorre no interior. Gustavo Cardoso de Matos, professor de Física em Bom Jesus do Itabapoana, disse que a velocidade da rede torna impossível trabalhar direito.
- Meu acesso não passa de 55Kbps. Outro dia, abri o site do Instituto de Física da Uerj para dar uma aula sobre eclipses disponível na página, em Flash - conta Gustavo. - Abri o primeiro slide e comecei a explicação. Quinze minutos depois, cliquei para passar para o segundo slide... que só surgiu quando faltavam cinco minutos para a aula acabar.
A secretária de Estado de Educação, Tereza Porto, diz que o problema da velocidade tem a ver com a instalação das antenas da tecnologia EDGE, que somente em agosto estarão disponíveis em todos os municípios. Ex-presidente do Proderj, Tereza assumiu a secretaria há apenas dois meses. Em entrevista ao InfoEtc, ela diz que tecnologia é uma ferramenta, não um fim em si.
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